sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Artesanato
O artesanato é um outro segmento da cultura de nosso Estado, de singular importância não só para manter viva a cultura deste povo, mas principalmente, para divulgar a própriasingularidade e o "modus vivendi"do artesão. O artesanato mato-grossense reflete o dia-a-dia e os costumes de vida do próprio artista e da cuiabania em geral. "Sua origem está na praticidade com que o homem mato-grossense procurava suprir a falta de determinados objetos e utensílios domésticos, que a dificuldade de obtenção lhe aflingia, seja pela distância de centros abastecedores, seja pela falta de recursos financeiros. Daí a criação. Daí o artesanato. A cerâmica típica do artesanato mato-grossense, de barro cozido em forno próprio, pode ser de suas categorias. Aqueles destinados à ornamentação, como vasos, objetos de enfeite, cinzeiros, etc, e ainda aqueles utilizados como utensílios domésticos, como potes, panelas, pratos, etc. Existem características própriasde dezenho, formato, adereços e enfeites, que diferenciam a cerâmica mato-grossense da de outros Estados." Paulo Pitaluga Costa e Silva - do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. Merecem destaque os ceramistas de São Gonçalo, especialistas na fabricação de de utensílios domésticos, tanto os utilizados na cozinha a exemplo dos potes e panelas de barro, quanto aqueles destinados à ornamentação. São Gonçalo é o mais antigo núcleo populacional de Mato Grosso. Está localizada na margem esquerda do Rio Coxipó, na confluência com o Rio Cuiabá. A tecelagem é talvez, dentro do nosso artesanato, a que detém maior representatividade no que tange a divulgação da arte, da cultura e da tradição do povo cuiabano e mato-grossense, principalmente pela sua beleza artística. Neste segmento destacam-se as redeiras que, no princípio, fiavam e atingiam o próprio fio do qual teciam as redes lavradas(bordadas) com motivos diversos em toda a sua extensão. A habilidade com que as redeiras tecem sua rede é a mesma das mulhere indígenas, de onde origina-se esta tradição. As guanás eram hábeis no manseio de tear, e conseguiram passar esta tradição secular às mulheres cuiabanas e ribeirinhas. No entanto, além de fiarem e tingirem o fio, a exemplo das tecelãs cuiabana, também plantavam o algodão e colhiam. "Temos ainda o artesanato em madeira. Típico das localidades ribeirinhas do Rio Cuiabá, sendo um exemplo, o fabrico de canoas de pesca. Antigamente, nos tempos mais remotos dos bandeirantes, era usado o sistema indígena de fazer canoa de casca de jatobá. Hoje a atividade canoeira, reduzida a poucos artesãos, está em franco desaparecimento. O canoeiro utiliza-se tão somente da madeira denominada ximbuva, ou o cambará, macia e fácil para escavar. Das obras, são confeccinadas gamelas e tigelas de madeira. Ainda no setor do artesanato de madeira, temos o artesão, geralmente carurueiro, que fabrica a Viola de Côcho, instrumento musical para acompanhamento do cururu e siriri. Trata-se de uma viola tosca, que produz um som típico, sem grandes ressonância e ainda sem os trastes localizados no cabo do instrumento, responsáveis pela produção de uma boa escala musical. As cordas, antes elaboradas a partir de tripas de certos animais selvagens, como o quati, macaco e gambé, hoje são de nylon. Principais Danças, Ritmos e Folguedos no Mato GrossoEm período fértil no terreno cultural, Mato Grosso cria novos passos e ritmos, com novos grupos de folclore assimilando culturas e confirmando a fama de ser o mais brasileiro de todos os Estados da Nação. Siriri - O siriri é uma dança das mais populares do folclore mato-grossense, praticada especialmente nas cidades e na zona rural da baixada cuiabana, fazendo parte das festas de batizados, casamentos e festejos religiosos. É uma dança que lembra os divertimentos indígenas. Segundo a pesquisadora Julieta de Andrade - "siriri é uma suite de danças de expressão hispano-lusitana, fortemente cultuada no ritmo e no andamento, com expressão africana". e compara o siriri com o fandango do litoral brasileiro. É o siriri dançado por homens, mulheres e até crianças, numa coreografia bastante variada e sem uma interpretação definida, sendo praticada em sala de casa ou mesmo em terreiros. A música é simples e bastante alegre, falando de coisas da vida. Os tocadores são também os cantadores, em solo ou em côro com os participantes da dança. Os instrumentos musicais usados no acompanhamento da dança são basicamente a viola de côcho, o ganzá e o mocho ou tamboril. Cururu - O Cururu é importante componente do folclore mato-grossense. A dança do cururu se classifica em sacra e profana. A sacra, também chamada de função, geralmente acontece as orações aos santos de devoção popular e tem o objetivo de louvar ou homenagear aquele determinado Santo. A profana é aquela dança acompanhada pelos desafios e versos dos repentistas, por trovas de amor e uma variada coreografia. "...o cururu, na cuiabania, é dança de roda, só para homens, ao som de desafios cantado, com acompanhamento instrumental; é função de cururu. Congadas - Outra dança característica do folclore mato-grossense, é a Dança de Congos, também chamada Congadas. É de origem autenticamente africana. Esta dança geralmente fazia parte das comemorações festivas de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. A Dança de Congos é de característica dramática e a indumentária colorida associada ao uso de espadas, simboliza a luta entre dois potentes africanos, um representando a nação do Rei de Portugal, o dominador e o outro representando a nação do Rei Congo (ou seja, a África negra dominada) . A dança constitui-se de duas partes bem distintas, a cantiga e a embaixada. Além da baixada cuiabana, as Congadas são tradicionalmente cultuada na primeira capital mato-grossense, a cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade. Cana verde - A Cana Verde é uma dança em desuso, hoje é considerada uma variação mais longínqua do Siriri. Também é dança típica da baixada cuiabana. Basicamente é uma dança de roda simples, onde homens, mulheres e crianças dançam numa fila, dando dois passos para cada lado. A duração da dança depende do fôlego dos cantadores, da suas possibilidades de desafio; e eles cantam sem parar, eis que cada um faz a segunda voz para o outro, alternadamente, enquanto se "atazanam". - Julieta de Andrade - Pesquisa de Folclore em Mato Grosso. Troika Pantaneira - Expressão coreográfica criada em Barão de Melgaço, pelo professor João Gonçalves. O nome "troika" é de origem russa, significando uma espécie de cordão de saideira, com síntese do Cururu, Siriri, Rasqueado, Chamame, Quadrilha, Pericón e São Gonçalo. A dança caracteriza-se por passos marcantes. A indumentária é da catadeira de algodão (saia cor de ponche c/ abertura ) , para mulheres. Para os homens a indumentária é de peão pantaneiro ( bota, chapéu, lenço, laço, etc ). A Troika Pantaneira não atem data certa para apresentação, mas sabe-se ocorre em qualquer festa junina. É comum aos turistas que visitam as exuberantes baías de Chacororé e Siá Mariana, se depararem com dançarinos, às margens do glorioso Rio Cuiabá ensaiando passos e números inéditos da gostosa dança. Chalana - Desta nova safra, destacam-se os integrantes do grupo folclórico Chalana, da cidades de Cáceres, que filtrou da música gaúcha e mato-grossense um ritmo alucinante e envolvente, fazendo com que as pessoas que o assistem, tornem-se apreciadores desta novidade cultural. Há que destacar, que o migrante, ao vir para Mato Grosso, trouxe consigo sua tradição, e junto, um certo ranço bairrista. Daí a observar-se em cidades do interior diferentes tipos de manifestações folclóricas, das quais, algumas jamais vistas em nosso Estado. Dança do Zinho Preto - A dança do Zinho Preto é digna de registro. É praticada por um grupo de dançarinos no município de Jauru, cidade que fica entre as vertentes dos rios Guaporé e Jauru, no oeste mato-grossense. É uma dança que envolve somente homens, diversas fases são desenvolvidas, sempre ao som de uma sanfona e pandeiro. Os dançarinos vestem-se com roupas em tons berrantes usam penachos na cabeça. Frequentemente pulam garrafas (vazias) dispostas em linha reta, no chão, usando também espadas (de madeiras), simbolizando uma luta. A Dança do Zinho Preto de Jauru tem características indígenas e africanas. Dança do Facão - Uma das manifestações de maior destaque no interior mato-grossense, é a Dança do Facão. É um folfolguedo tipicamente gauchesco, sendo apresentado principalmente nos CTGs - Centro de Tradições Gaúchas, esparramados por todos os rincões do Estado, inclusive na capital, Cuiabá. Esta dança agrada a todos que vêem, pela riqueza do figurino e agilidade dos dançarinos. Dança dos Lenços - A dança originária da cidade pantaneira de Barão de Melgaço, criada por dona Leodina Oliveira da Silva. Segundo a própria Leodina, esta expressão saiu dos passos do Siriri, chamado Barco do Alemão. A dança é uma declaração de amor no sentido mais singelo e sublime. Milonga - Expressão que nasceu na região platina e que virou toada pública no Rio da Prata. Existe a milonga pampeana e a da cidade. A Milonga é poeticamente fruto da preguiça do tempo e das horas de ausência do gaúcho ou base melódica para o Payador (repentista do sul). Em Mato Grosso, a milonga chegou com os migrantes gaúchos, notadamente a partir da década de setenta, assim como outros ritmos. Chote - Dança de origem alemã ou húngara, trazida para Espanha e portugal, mais tarde para a América, a qual fixou-se no sul e nordeste brasileiro. o nome vem do alemão Schottish, parecido com a mazuca e com a polca. E chote no sul é mais conhecido no Rio Grande do Sul, na Província de missiones ( Argentina) e algumas regiões fronteiriças do Uruguai. Tornou-se dança popular, criando característica própria. Veio para o Mato Grosso com os gaúchos e nordestinos, especialmente a partir dos anos setenta. Fandango - Dança espanhola e portuguesa, foi trazida para o Brasil no século passado. O Fandango é um tipo de baile rural em Portugal, acompanhado de sanfona e viola, enquanto que na Espanha, de violão e castanhola. É uma expressão que existe em vários estados brasileiros e Mato Grosso somente recebeu suas influências há poucas décadas. O Fandango é tocado pelos conjuntos musicais em bailes gaúchos. Vanerão - Assim como vanera, vanerinha, segundo o pesquisador Paixão Côrtes, nasceu da habanera e esta por sua vez nasceu em Havana - Cuba. Daí o seu nome habanera que quer dizer de habana. A habanera foi a primeira música genuinamente afro-latino-ameriacana que foi levada para salões europeus do século XVII. Mais tarde, já deformada na sua estrutura primordial devido às modalidades nelas aplicadas pelos músicos europeus, voltou com os imigrantes portugueses e espanhóis, alojando-se em diversas cidades da América Latina. De acordo com nossas pesquisas, a habanera deu origem no maxixe brasileiro, e grande expressão popular argentina, o tango. Quanto ao vanerão, foi mais uma alteração dessa música e se tornou, ao lado do chote, bugio, fandango, etc, uma das danças populares do Rio Grande do Sul. Também foi trazida a Mato Grosso pelos povos do sul. Cateretê - De provável origem africana, disseminada nas regiões sudeste e Estado de Goiás. Dança em fileiras opostas e cantada, cujo nome indica origem tupi, mas que coreograficamente se mostra muito influente pelos processos de dançar catira. O cateretê é cultivado em Mato Grosso na região do Médio Araguaia. Bugio - Dança popular gaúcha. É considerada a mais autêntica de todas as outras. A denominação bugio vem da imitação que os pares fazem durante o desenrolar da dança. O bugio apareceu em Mato Grosso com o movimento migratório gaúcho. Moda de Viola - Canção rural a duas vozes, em terças, com acompanhamento de viola de pinho. Seus temas enfocam sagas de boiadeiros, amores não correspondidos e sempre cantada com vernáculos locais. Em Mato Grosso é facilmente encontrada em toda extensão araguaiana, trazida pelos migrantes de Minas Gerais, São Paulo e Goiás, onde é muito comum. Toada - Qualquer cantiga de melodia simples e monótona, texto curto, sentimental ou brejeiro, estrofe e refrão. Pastorinhas ou Pastoril - Pequena representação dramática, composta de várias cenas (jornadas), durante as quais se sucediam cantos, danças, partes declamadas e louvações e que se realizava diante do presépio, entre o dia de natal e o de Reis, para festejar o nascimento de Jesus. Folguedo comum em Barra do Garças - Vale do Araguaia. Música Nordestina - Denominação dada a toda nebulosa telúrica da cultura musical nordestina. A música nordestina tem vários ritmos, folguedos e cantorias. Em Mato Grosso o chamado forró é mais conhecido devido a ser uma coletânea de danças populares nordestinas, como o baião, xaxado, chote ... A música nordestina influenciou Mato Grosso em toda região do Vale do Araguaia e norte do Estado, principalmente depois da fundação de Brasília. Catira - Considerada a mais contundente expressão rural originada do Lundu, ao lado do Cateretê, Cururu Paulista, Arrasta-Pé, Balanço, Calango Mineiro, Pagode...etc. Com sapateado ou improvisações de versos mostrando uma das facetas de fandango luso-espanhol, a catira marca no seu desenrolar toda uma saga de chamada música caipira e seu canto, em primeira e segunda voz, que hoje é uma das bases vocais da música sertaneja. A catira desenvolveu-se em diversas regiões mato-grossense; Chapada dos Guimarães, Vale do Araguaia, do Rio Garças e do rio Vermelho. FESTAS RELIGIOSASUm dos importantes marcos da nossa cultura que ainda se mantem ilesa de qualquer influência progressista, é a tradição dos costumes e festas religiosas, realizadas por ocasião da comemoração aos santos de devoção popular. É o caso das festas em louvor a São Benedito, a Nossa Senhora do Rosário e ao Divino Espírito Santo. É importante lembrar que a festa de São Benedito ( geralmente realizada na última semana de junho e com encerramento no primeiro domingo de julho), apesar de ter características semelhantes à do Senhor Divino, não tinha a mesma magnitude, uma vez na primeira predominava a participação popular, enquanto na segunda, era a alta sociedade cuiabana que liderava os festejos. Nesta festas, bem como na de Nossa Senhora do Rosário era comum a realização da Dança de Congos. Vale dizer que a semelhança existente entre a a festa do Senhor Divino e a de São Benedito diz respeito a todo um ritual que acontece dias antes, no qual os festeiros percorrem as ruas da cidade levando de casa em casa a bandeira dos santos e recebendo donativos que serão transformados em alimentos para serem servidos no dia da festa propriamente dita. Neste dia, após a missa da madrugada é servido, a toda a população que queira participar, alimento o dia todo, começando pelo chá com bolo e adentrando a noite com danças regionais e pratos típicos da culinária mato-grossense. Aliás, a culinária mato-grossense não é só famosa pelo seu sabor inigualável, quanto pela especificidade dos seus pratos, a exemplo da "maria-izabel", do pacu assado com farofa de couve, da carne sêca com banana verde, a farofa de banana, e tantos outros. É tão forte a magia desta culinária sobre o paladar de seus degustadores que existe até uma lenda referente ao pacu assado. Segundo essa lenda, todo e qualquer forasteiro que aqui chega deve comer a cabeça do pacu e daqui não mais terá vontade de sair. LITERATURAAs primeiras manifestações acerca da região que seria posteriormente Mato Grosso datam ainda do século XVI. Ulrich Schmidl, servindo no exército espanhol, descreveu a sua viagem subindo o Rio Paraguai até perto do Chapadão dos Parecis em sua obra "Derrotero y Viaje a espanã y las Índias", cuja primeira edição escrita em latim, data de 1599. No mesmo século, outros conquistadores a serviço da Espanha, estiveram no solo mato-grossense e descreveram as suas aventuras, mas que foram publicadas somente no século posterior. O Padre Jesuíta Antônio Rodrigues, Dom Hernando de Ribera, Domingos Martinez de Irala, Alvar Nuñes Cabeza de Vaca fizeram interessantes relatos acerca de suas expedições "Paraguay arriba..." No século XVII, praticamente a única obra produzida que menciona esta região, então sob domínio espanhol, foi o “Aneles del Descobrimento, Población y Conquista del Rio de la Plata”, de Ruy Dias de Gusmán, que permaneceu inédita até 1833, apesar de ter sido escrita em 1612. Publicados no século XVIII, temos 4 relações que, em princípio referem-se a Mato Grosso. São elas “Relação e Breve Notícia de um bicho feroz que apareceu à gente que foi para o Mato Grosso” anônimo sem data; “Relação curiosa do sítio de Grão Pará e terras do Mato Grosso...” anônimo sem data; “Relação de chegada que teve a gente de Mato Grosso...”anônimo de 1754; “Relações e notícias da gente que nesta segunda monção chegou ao sítio do Grão Pará e às terras do Mato Grosso...” escrita por Caetano Paes da Silva e publicado em 1754. Ainda no século XVIII tivemos o primeiro cronista do passado de Mato Grosso, José Barbosa de Sá, iniciando o denominado Ciclo dos Cronistas. Esse licenciado escreveu “Relação das povoações de Cuiabá e Mato Grosso de seus princípios até os tempos presentes”, escrito em 1755 mas publicada neste século. Joaquim da Costa Siqueira, ainda no século XVIII escreveu “Crônicas do Cuiabá”, praticamente uma transcrição da obra de Barbosa de Sá e também o seu “Compêndio Histórico Cronológico de Cuiabá”, publicado somente em 1850. Outros cronistas se ativeram a Cuiabá e Mato Grosso ainda no primeiro século da ocupação mato-grossense: João Antônio Cabral com “Memórias Cronológicas da Capitania de Mato Grosso”, José Gonçalves da Fonseca com “Notícias da situação de Mato Grosso e Cuiabá”. Escrito no século XVIII, mas somente posteriormente publicados, são os inúmeros trabalhos acerca de Mato Grosso, relatórios de viagens, demarcações de fronteiras de autorias dos seringueiros Francisco José de Lacerda e Almeida e de Antônio Pires da Silva Pontes. Já no principio do século XIX o oficial de engenheiros Luíz d’Alincourt, entre vários trabalhos nos deixa a “Memória da Viagem do Porto de Santos à cidade de Cuiabá”, e Hércules Florence com “Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas”. Com ambos os trabalhos se inicia em Mato Grosso o denominado Ciclo dos Viajantes. Neste século tivemos ainda Joaquim ferreira Moutinho que escreveu “Noticias sobre a Província de Mato Grosso”; Bartolomeu Bossi, com “Viagem Pintoresco...”; Visconde de Beayrepaire-Rohan com “Anaes de Mato grosso”, publicado na Revista de Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo de 1910; O Dr. João Severiano da Fonseca escreveu “Viagem ao Redor do Brasil”; Karl von den Steinen, cientista alemão que escreveu “O Brasil central” e outros trabalhos etnográficos. Faz ainda parte do Ciclo dos Viajantes, Francis de la Porte Castelnau, que escreveu “Expedição às partes centrais da América do Sul”. No século XIX destacamos também a figura erudita de Augusto Leverger, o Barão de Melgaço, que com 36 títulos escrito sobre Mato Grosso, destacamos “Apontamentos Cronológicos da Capitania de Mato Grosso”, “Vias de Comunicação de Mato Grosso”, e “Breves Memórias relativas à Corografia de Mato Grosso. Ainda nas primeiras décadas desse século tivemos Estevão de Mendonça com sua obra máxima “Datas Mato-grossenses:, dentre outros muitos trabalhos históricos por ele nos deixado, além de obras culturais de inegáveis méritos, com a criação da revista “O Archivo” de 1904 a 1906. Virgílio Corrêa Filho, o maior historiador das coisas do passado mato-grossense, nos legou nada menos que 109 títulos de obras acerca de Mato Grosso, sem contar as de cunho nacional. Sua grande obra é sem dúvida a “História de Mato Grosso”, além de “As raias de Mato Grosso”, Augusto Leverger – o Bretão Cuiabanizado”, “Joaquim Murtinho”, “Pedro Celestino” e outras da mais suma importância para a historiografia mato-grossense. Dom Francisco de Aquino Corrêa, um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de mato Grosso e da Academia Mato-grossense de Letras, foi um dos maiores cultores da língua prática, produzindo sermões, poesias, crônicas e história no mais refinado vernáculo. Entre seus trabalhos destacamos: “A Fronteira de Mato Grosso com Goiás”, “Cartas Pastorais”, “Uma flor do Clero cuiabano”, “Nova et Vetera”, “Florileguim”. Foi D. Aquino Corrêa o autor da letra do Hino de Mato Grosso. Foi ainda membro da Academia Brasileira de Letras. O desembargados José de Mesquita despontou como um dos grandes leitores mato-grossenses. Jurista, historiador, genealogista, cronista e poeta, escreveu: “A Chapada Cuiabana”, “João Poupino Caudas”, “O Traumaturgo de Sertão”, “Gente e Coisa de Antanho”, “Terra do Berço” e “Poema do Guaporé”. O General Cândido Mariano da Silva Rondon, relatou as suas experiências pelos sertões de Mato Grosso, pacificando índios e estendendo linhas telegráficas, em mais de 20 trabalho, todos eles publicados pela Comissão Rondon. Sem dúvida, além do brilhante militar, despertou nas letras mato-grossenses. Rubens de Mendonça, de longe o maior historiador regional mato-grossense dos tempos modernos, poeta sensível e cronista atento do cotidiano cuiabano, herdou a veia literária de seu pai Estevão de Mendonça. Escreveu perto de 50 livros, dentre os quais, as seguintes contribuições para a historiografia, “História de Mato Grosso”, “História do Comércio em Mato Grosso”, “Sátiras na Política de Mato Grosso”, “Nos Bastidores da História de Mato Grosso”, “Ruas de Cuiabá”, na poesia, “Cascalho de ilusão”, “Garimpo do meu Sonho”, “No escafandro da Vida”, "Antologia Bororo” e “Dom Por do Sol”. Foi o Secretário Perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso até seu falecimento em 1983. Luíz Philipe Pereira Leite, historiador emérito com 37 títulos publicados a cerca de nossa historiografia regional, escreveu: “Vila Maria dos meus amores”, “Bispo do Império”, “O médico da Jacobina”, “Os Capitães Generais de Mato Grosso”, “Três Sorocabanos no Arraial”, dentre outros. Presidiu o Instituto Histórico de Mato Grosso por 20 anos profícua gestão. Na historiografia mato-grossense destacaram-se ainda: Antônio Corrêa Costa, Firmo José Rodrigues, João Barbosa de Faria, Antônio Fernandes de Souza, Francisco Alexandre Ferreira Mendes, Lécio Gomes de Souza, Antônio de Arruda, J. Lucídio Nunes Rondon, Lenine Póvoas, Natalino Ferreira Mendes, Adalto de Alencar, Pe. José de Moura e Silva, dentre outros. A Universidade Federal de Mato Grosso, tem contribuído sobre maneira com a produção historiográfica, dando uma ênfase mais acadêmico-cientifíca aos trabalhos. Dignos de notas são as professoras Luiza Volpato, Elizabeth Madureira de Siqueira e Lúcia Helena Gaeta Aleixo, produzindo obras históricas de excelente nível científico. Na poesia ainda de destaca Pedro Trouy, Antônio Tolentino de Almeida, Otávio Cunha, Ulisses Cuiabano, José Raul Vila, Maria de Arruda Müller, Franklin Cassiano Silva, Carlos Vondoni de Barros, João Antônio Neto, Lobivar de Matos, Euricles Mota, Tertuliano Amarília, silva Freire, Ronaldo Castro, representando uma grande quantidade de sensíveis e brilhantes poetas, que em sucessivas gerações, tanto cantaram a terra e a gente mato-grossense. Destacam-se ainda nas letras de forma geral: Gervásio Leite, Corsíndio Monteiro da Silva, Carmindo de Campos, Agrícola Paes de Barros, Carlos Frederico Moura, Domingos Sávio Brandão Lima, Nilo Póvoas, Isaac Póvoas, Renato Baez, dentre outros. Essa plêiade de literatos, de escritores, poetas e historiadores, que longe dos grandes centros culturais, isolados pela distância, com a sua capacidade inata de registro, pela erudição, intelectualidade e sensibilidade poética, conseguiram fazer sobressair seus nomes e marcar indelevelmente a sua passagem pelo mundo cultural deste Estado. Mato Grosso, rico em história, em prosa e em verso, e principalmente, rico em homens eruditos e sensíveis, que contaram essas histórias , elaboraram essas crônicas, produziram poesias. Homens que sonharam Mato Grosso. TEATROO teatro em Mato Grosso, foi o meio de maior influência para a formação da cultura regional. Através de representações teatrais, registrada desde o século XVIII, despertou a sensibilidade de gente mato-grossense pelas coisas eruditas e culturais. A história de nosso Estado abundantemente cita festas, fogos, cavalhadas, músicas, recitais de poesia, e principalmente a representação de peças teatrais. O século XVIII é profuso e abundante nesses acontecimentos festivos. O historiador Carlos Francisco Moura nos diz que mato Grosso foi a Capitânia onde o teatro teve a maior importância social e cultural. Suas pesquisas lavaram-no à conclusão que em várias fontes de história, de 1727 ao fim do século XVIII, são documentadas nada menos que 80 representações teatrais, enquanto que Galante de Souza registra em todas as demais Capitania somadas, no mesmo período, 50 representações. No Mato Grosso do século XVIII, haviam grandes festas em ocasiões especiais, como a chegada de autoridades coloniais, partidas dos mesmos, júbilos de casamento ou nascimento de membros da família real portuguesa, festejos religiosos, regozijo por términos de batalhas, posses de autoridades, etc. E nessas festividades, cuja memória chegou até nós graças ao zelo e à preocupação de registro de poucos cronistas que a isso se dedicaram, havia sempre a representação de comédias e tragédias, a par de óperas, danças, fogos e cavalhadas. Era a ingenuidade das manifestações, da alegria da gente mato-grossense no primeiro século da conquista destes sertões. A história registrou uma representação teatral como parte integrante de uma festa maior em 1763, por ocasião do nascimento do neto de D. José I; outras peças foram levada em outubro de 1772 com a chegada à Cuiabá de Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, e em dezembro desse mesmo ano, com a sua posse como Capitão General em Vila Bela; em 1785 em festejos na localidade de Casalvasco, outras representações foram levadas. Ficaram também registradas na história, as festas em homenagem ao Juíz de Fora de Cuiabá, Diogo de Toledo Lara e Ordonhez, que em poucos dias cerca 17 peças teatrais entre tragédias e comédias. Pelo minuciosos comentários que se fez das festividades e das representações, tornou-se Ordonhez o primeiro crítico teatral que se tem notícias no Brasil. Em 1796, pela chegada de Caetano ***** de Miranda Montenegro, foram representadas 6 peças teatrais. Em várias ocasiões, no século XIX, foram representada interpretações teatrais. Em 1800 com a visita de Caetano ***** de Miranda Montenegro a Cuiabá; em 1807 foram encenadas várias peças em regozijo à visita a Cuiabá do Capitão General João Carlos Augusto d'Oeynhausen e Gravenberg; Pela restauração de Portugal, em 1809 se encenou peças teatrais em Cuiabá; em 1845, nas festas de Pentecostes em Cáceres, o naturalismo Francis de la Porte Castelnau assiste a teatro cacerense. Joaquim Ferreira Moutinho anota que em 1867 "os cuiabanos manifestavam grande gosto pela arte dramática" e dá notícias da montagem de uma companhia teatral mato-grossense pelo governador Dr.Delamare. A seguir, várias instituições teatrais foram formadas em Cuiabá, sendo em 1887 criada a Sociedade Dramática Amor e Arte. A primeira apresentação profissional em Cuiabá deu-se em 27 de Agosto de 1885, com a Companhia Zarzuelas, que veio a Mato Grosso exibir-se no Teatro São João. Em 1893 um tal de Joaquim Bartolino Proença funda uma Escola de Arte Dramática. No século XX as atividades teatrais deveram-se as iniciativas de instituições de ensino, como o Colégio São Gonçalo. O padre José Solari e depois o padre Luís Montuschi, montavam e dirigiam os espetáculos, formados pelos alunos. Por volta de 1925, Zulmira Canavarros e Franklin Cassiano montaram várias peças teatrais em Cuiabá. Na década de quarenta, vários intelectuais e professores, organizaram espetáculos teatrais. Foram eles Alberto Addor, Gervásio Leite, Ana Pinheiro, Leonidas Mendes e outros. Todavia há que se ressaltar que, desde o século XVIII, as peças teatrais montadas e exibidas nos festejos mato-grossenses, não foram aqui escritas, salvo honrosas exceções. A interpretação, a arte cênica sempre foi mato-grossense, todavia, as peças eram importadas em sua maioria. Na década de 70 e 80, grupos teatrais conseguiram realizar mostras e circuitos teatrais, e dessa forma divulgar um teatro genuinamente mato-grossense. Nos anos 90, ocorreram a série Festival Estadual de Teatral, em que diversos grupos teatrais, de todos os rincões do Estado participaram. Com isso, o teatro mato-grossense pode se interiorizar, levando a arte cênica e a cultura a vários municípios do interior do Estado. Hoje uma nova geração desponta. Artistas, cenógrafos, teatrólogos, com técnica e arte, recuperam um espaço de há muito perdido e esquecido. A atuação de grupos teatrais somente vem enriquecer ainda mais não só o teatro, mas a cultura mato-grossense como um todo. É inegável afirmar-se que a vanguarda do teatro em Cuiabá na última década é representada por Amaury Tangará e por Glorinha Albuês, que sem espaço cultural, sem apoio financeiro, sem recursos técnicos maiores, conseguem levar em frente o teatro que um dia foi o mais importante de todas as Capitanias no século XVIII. Um abraço para você!
2 anos atrás

Nenhum comentário:

Postar um comentário