terça-feira, 8 de setembro de 2009


Os índios Cadiuéu ou Kadiuéu são descendentes dos famosos Mbaya-Guaicurus, "Índios Cavalheiros do Pantanal", famosos no passado por terem sido excelentes guerreiros. Nos conflitos escondiam-se no dorso dos cavalos para iludir os inimigos, fazendo-os crer que os animais estavam sem montaria. Destacaram-se pela tenaz resistência, imposta aos espanhóis e portugueses, em conflitos na bacia do rio Paraguai quando da colonização do Brasil.

A região em que vivem situa-se na serra da Bodoqueira, entre Bonito e Jardim, no Mato Grosso do Sul, num território de 100 mil hectares. Suas principais atividades são a criação de gado, a agricultura de subsistência, a caça, a pesca e o artesanato.

Os Cadiuéu são muito admirados pelo excelente trabalho que realizam com o barro, principalmente no que se refere à decoração das peças. Aplicam desenhos geométricos com cores fortes - preto, vermelho, ocre, amarelo, branco, verde etc. Os corantes utilizados são naturais: minerais e vegetais da região.

A tarefa de modelar o barro é predominantemente feminina, como sempre acontece nas tribos indígenas.


Produzem objetos utilitários e decorativos: potes, panelas, jarros, moringas, placas e animais. Nos utensílios usados para cozer alimentos não é prática aplicar decoração.

As argilas são obtidas em diferentes jazidas da região. De algumas só se usa o barro, na forma de "engobe", para decorar
as peças com cores vivas e vibrantes.

No preparo da massa misturam à argila cacos de cerâmica já queimada, bem peneirados e moídos- "chamote"- com a finalidade de diminuir a plasticidade e melhorar a liga. Essa prática facilita o levantamento da parede da peça, sem o risco de haver desmoronamento e rachaduras e diminui o encolhimento durante a secagem e na queima.

As peças, depois de prontas, são deixadas secar ao ar livre, por muitos dias, antes de serem cozidas. As queimas não são feitas em fornos e sim em fogueiras a céu aberto.

A lenha preferida é de angico, bem seco, que dá fogo vivo e forte.

A modelagem das peças é realizada sem o uso do torno. O processo utilizado é o de cordões de barro, também conhecido como cobrinhas ou roletes. As paredes são levantadas, cordão por cordão, alisadas, interna e externamente, com o auxílio de uma ferramenta improvisada que pode ser um osso, uma pedra ou outro objeto. Os
Cadiuéu são exímios nesta técnica, chegando a confeccionar jarras de um metro de altura, com excelente perfeição de forma.


São muitas as variedades dos desenhos ornamentais aplicados nas peças. Os modelos são guardados como tradição familiar vinda da mãe, das avós, das tias etc. São riscos à mão livre, traçados com o auxílio de um cordão feito de gravatá, formando sulcos na superfície da peça. São linhas retas, curvas, paralelas, degraus de escadas, espirais, ornatos em ziguezague e outras variantes.

A decoração é feita com pigmentos naturais de cores fortes. O verde é obtido de uma argila, com esta coloração, cuja jazida situa-se no meio de uma mata fechada. A tonalidade esverdeada certamente origina-se da decomposição, através dos tempos, de vegetais do local. Os tons amarelos e os brancos são obtidos de argilas encontradas na beira de córregos. O tom vermelho e o ocre obtêm-se de barro rico em óxido de ferro. O preto é obtido da resina da árvore, Pau Santo. O processo consiste em ferver, num recipiente, lascas, já secas, do tronco do vegetal. Com a ebulição da água, sobe uma resina para a superfície na forma de bolinhas, parecendo graxa. O material é então retirado, aos poucos, com um bastãozinho de madeira e introduzido num recipiente, com água fria, para endurecer. O processo vai se repetindo até que se seja formado um bastão.

As argilas usadas como pigmentos na decoração "engobes" são primeiramente limpas, retirando-se todas as impurezas. Depois são postas a secar para, em seguida, serem amassadas, moídas e peneiradas. No momento de aplicá-las na peça, elas devem ser diluídas em água, para adquirirem uma consistência pastosa. Não são usados pincéis. Os corantes são passados com os dedos. Para que a impregnação das cores ocorra eficientemente, deve ser realizada após o término da queima, com a peça ainda bem quente.

A primeira cor a ser aplicada é a preta, que exige uma maior quantidade de calor na peça. Faz-se passando o bastão, obtido do Pau Santo, nas áreas escolhidas. Como resultado, tem-se impressão semelhante à do verniz industrial, pois surge um tom forte e brilhante.

Os sulcos são sempre pintados de branco, tonalidade que, visualmente, melhor delimita o contraste das áreas decoradas. Exemplo: uma superfície preta é separada de uma ocre por um sulco de cor branca.


Os desenhos gráficos dos Cadiuéu influenciam bastante os trabalhos de estilistas, pintores e outros artistas de Mato Grosso do Sul. Nas lojas de Campo Grande, capital do estado, é comum encontrar os mais variados objetos ostentando símbolos artísticos dos indígenas.

A fama dos grafismos dos índios Cadiuéu já chegou à Europa. Em 2000 o escritório "Brasil Arquitetura" de São Paulo, dirigido pelos arquitetos Marcelo Carvalho Ferraz e Francisco de Paiva Fanucci , venceu uma concorrência internacional para a recaracterização do bairro "Gelbes Viertel" em Hellesdorf, Berlim. Dentre as intervenções
adotadas uma foi usar, desenhos da índias, em azulejos para serem aplicados nas fachadas e saguões dos edifícios.
Com o apoio da FUNAI realizaram um concurso tendo sido selecionado
s seis trabalhos. Como remuneração a tribo recebeu direito autoral coletivo e as artistas premiadas, acompanhadas de um guia, visitaram a cidade e verificaram,
“in loco”
, a aplicação de sua arte em terras tão distantes.

Abaixo os azulejos que foram industrializados e aplicados no projeto em Hellesdorf.

Os mesmos tipos de desenhos geométricos usados na decoração das cerâmicas são aplicados na face e no corpo dos índios, homens e mulheres, nas festas e rituais.

Muito curioso é o hábito, moderno, das moças índias passarem batom nos lábios complementando, com muita beleza,
suas primitivas pinturas faciais.

Imprescindível para o conhecimento da cultura dos índios Cadiuéu é a leitura do livro ARTE DOS ÍNDIOS KADIUÉU,
de Darcy Ribeiro.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009


A Cultura dos Povos Indígenas
Cerca de 200 sociedades indígenas vivem no Brasil. São quase 200 culturas, com língua, religião e organização social distintas entre si. Trata-se de um dos maiores acervos culturais do mundo, que tem atraído ao País centenas de estudiosos e especialistas, principalmente lingüistas e antropólogos. Este acervo, entretanto, vive sob constantes ameaças, que têm como causa básica os conflitos fundiários e o avanço dos não-índios sobre as terras indígenas. A Constituição Federal estabelece como direito inalienável aos povos indígenas a posse sobre a terra que ocupam, mas, dada a vastidão do território brasileiro e a escassez de recursos, a agência governamental encarregada de defender e garantir os interesses e os direitos indígenas, a Funai (Fundação Nacional do Índio), tem dificuldades de fazer cumprir a legislação, garantir um adequado atendimento de saúde e educação e implementar os projetos de atividades produtivas.
A cultura material dos povos indígenas expressa aos outros setores da sociedade a sua visão de universo e, quase sempre, cumpre uma função utilitária no cotidiano da comunidade tribal. Mas esta visão vem sendo influenciada pelas mais variadas formas de pressão a que estão submetidos os povos indígenas brasileiros, cujas terras são ambicionadas pelos regionais, em virtude das riquezas da flora, fauna e do subsolo.
A carência de recursos, aliada à influência das populações não-indígenas tem repercutido na produção cultural dos povos indígenas brasileiros. Excluem-se dessa tendência os indígenas que ainda vivem isolados, sem qualquer contato com o chamado mundo civilizado, que a Funai estima em cerca de 60 comunidades na Amazônia.
A influência dos regionais sobre os povos indígenas pode ser constatada nas peças artesanais. Nos últimos anos, os técnicos da Funai verificaram uma queda na qualidade dos artesanatos indígenas. Este processo coincide com o avanço dos não-índios sobre seus territórios, que tem provocado modificações ambientais e privado os índios da matéria-prima necessária à produção da sua arte. Além disso, os baixos investimentos nas áreas de educação, saúde e atividades produtivas, deixou as sociedades indígenas mais suscetíveis às influências dos regionais e dependentes dos benefícios do Estado.
A necessidade de sobreviver em condições adversas levou os Pataxó Hã-Hã-Hãe, localizados no sul da Bahia, a produzirem intensamente seus artesanatos, sem a tradicional qualidade. Cercados por fazendeiros e ainda hoje lutando pelo direito à posse imemorial da terra por eles ocupada, seu espaço físico foi bastante desmatado e sua flora local reduzida. O artesanato Pataxó está longe de representar toda a sua cultura material. Hoje, eles produzem peças visando a arrecadarrecursosquelhespermitamconsumirbenseprodutosproduzidospelos
Artesanato
O artesanato é um outro segmento da cultura de nosso Estado, de singular importância não só para manter viva a cultura deste povo, mas principalmente, para divulgar a própriasingularidade e o "modus vivendi"do artesão. O artesanato mato-grossense reflete o dia-a-dia e os costumes de vida do próprio artista e da cuiabania em geral. "Sua origem está na praticidade com que o homem mato-grossense procurava suprir a falta de determinados objetos e utensílios domésticos, que a dificuldade de obtenção lhe aflingia, seja pela distância de centros abastecedores, seja pela falta de recursos financeiros. Daí a criação. Daí o artesanato. A cerâmica típica do artesanato mato-grossense, de barro cozido em forno próprio, pode ser de suas categorias. Aqueles destinados à ornamentação, como vasos, objetos de enfeite, cinzeiros, etc, e ainda aqueles utilizados como utensílios domésticos, como potes, panelas, pratos, etc. Existem características própriasde dezenho, formato, adereços e enfeites, que diferenciam a cerâmica mato-grossense da de outros Estados." Paulo Pitaluga Costa e Silva - do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. Merecem destaque os ceramistas de São Gonçalo, especialistas na fabricação de de utensílios domésticos, tanto os utilizados na cozinha a exemplo dos potes e panelas de barro, quanto aqueles destinados à ornamentação. São Gonçalo é o mais antigo núcleo populacional de Mato Grosso. Está localizada na margem esquerda do Rio Coxipó, na confluência com o Rio Cuiabá. A tecelagem é talvez, dentro do nosso artesanato, a que detém maior representatividade no que tange a divulgação da arte, da cultura e da tradição do povo cuiabano e mato-grossense, principalmente pela sua beleza artística. Neste segmento destacam-se as redeiras que, no princípio, fiavam e atingiam o próprio fio do qual teciam as redes lavradas(bordadas) com motivos diversos em toda a sua extensão. A habilidade com que as redeiras tecem sua rede é a mesma das mulhere indígenas, de onde origina-se esta tradição. As guanás eram hábeis no manseio de tear, e conseguiram passar esta tradição secular às mulheres cuiabanas e ribeirinhas. No entanto, além de fiarem e tingirem o fio, a exemplo das tecelãs cuiabana, também plantavam o algodão e colhiam. "Temos ainda o artesanato em madeira. Típico das localidades ribeirinhas do Rio Cuiabá, sendo um exemplo, o fabrico de canoas de pesca. Antigamente, nos tempos mais remotos dos bandeirantes, era usado o sistema indígena de fazer canoa de casca de jatobá. Hoje a atividade canoeira, reduzida a poucos artesãos, está em franco desaparecimento. O canoeiro utiliza-se tão somente da madeira denominada ximbuva, ou o cambará, macia e fácil para escavar. Das obras, são confeccinadas gamelas e tigelas de madeira. Ainda no setor do artesanato de madeira, temos o artesão, geralmente carurueiro, que fabrica a Viola de Côcho, instrumento musical para acompanhamento do cururu e siriri. Trata-se de uma viola tosca, que produz um som típico, sem grandes ressonância e ainda sem os trastes localizados no cabo do instrumento, responsáveis pela produção de uma boa escala musical. As cordas, antes elaboradas a partir de tripas de certos animais selvagens, como o quati, macaco e gambé, hoje são de nylon. Principais Danças, Ritmos e Folguedos no Mato GrossoEm período fértil no terreno cultural, Mato Grosso cria novos passos e ritmos, com novos grupos de folclore assimilando culturas e confirmando a fama de ser o mais brasileiro de todos os Estados da Nação. Siriri - O siriri é uma dança das mais populares do folclore mato-grossense, praticada especialmente nas cidades e na zona rural da baixada cuiabana, fazendo parte das festas de batizados, casamentos e festejos religiosos. É uma dança que lembra os divertimentos indígenas. Segundo a pesquisadora Julieta de Andrade - "siriri é uma suite de danças de expressão hispano-lusitana, fortemente cultuada no ritmo e no andamento, com expressão africana". e compara o siriri com o fandango do litoral brasileiro. É o siriri dançado por homens, mulheres e até crianças, numa coreografia bastante variada e sem uma interpretação definida, sendo praticada em sala de casa ou mesmo em terreiros. A música é simples e bastante alegre, falando de coisas da vida. Os tocadores são também os cantadores, em solo ou em côro com os participantes da dança. Os instrumentos musicais usados no acompanhamento da dança são basicamente a viola de côcho, o ganzá e o mocho ou tamboril. Cururu - O Cururu é importante componente do folclore mato-grossense. A dança do cururu se classifica em sacra e profana. A sacra, também chamada de função, geralmente acontece as orações aos santos de devoção popular e tem o objetivo de louvar ou homenagear aquele determinado Santo. A profana é aquela dança acompanhada pelos desafios e versos dos repentistas, por trovas de amor e uma variada coreografia. "...o cururu, na cuiabania, é dança de roda, só para homens, ao som de desafios cantado, com acompanhamento instrumental; é função de cururu. Congadas - Outra dança característica do folclore mato-grossense, é a Dança de Congos, também chamada Congadas. É de origem autenticamente africana. Esta dança geralmente fazia parte das comemorações festivas de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. A Dança de Congos é de característica dramática e a indumentária colorida associada ao uso de espadas, simboliza a luta entre dois potentes africanos, um representando a nação do Rei de Portugal, o dominador e o outro representando a nação do Rei Congo (ou seja, a África negra dominada) . A dança constitui-se de duas partes bem distintas, a cantiga e a embaixada. Além da baixada cuiabana, as Congadas são tradicionalmente cultuada na primeira capital mato-grossense, a cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade. Cana verde - A Cana Verde é uma dança em desuso, hoje é considerada uma variação mais longínqua do Siriri. Também é dança típica da baixada cuiabana. Basicamente é uma dança de roda simples, onde homens, mulheres e crianças dançam numa fila, dando dois passos para cada lado. A duração da dança depende do fôlego dos cantadores, da suas possibilidades de desafio; e eles cantam sem parar, eis que cada um faz a segunda voz para o outro, alternadamente, enquanto se "atazanam". - Julieta de Andrade - Pesquisa de Folclore em Mato Grosso. Troika Pantaneira - Expressão coreográfica criada em Barão de Melgaço, pelo professor João Gonçalves. O nome "troika" é de origem russa, significando uma espécie de cordão de saideira, com síntese do Cururu, Siriri, Rasqueado, Chamame, Quadrilha, Pericón e São Gonçalo. A dança caracteriza-se por passos marcantes. A indumentária é da catadeira de algodão (saia cor de ponche c/ abertura ) , para mulheres. Para os homens a indumentária é de peão pantaneiro ( bota, chapéu, lenço, laço, etc ). A Troika Pantaneira não atem data certa para apresentação, mas sabe-se ocorre em qualquer festa junina. É comum aos turistas que visitam as exuberantes baías de Chacororé e Siá Mariana, se depararem com dançarinos, às margens do glorioso Rio Cuiabá ensaiando passos e números inéditos da gostosa dança. Chalana - Desta nova safra, destacam-se os integrantes do grupo folclórico Chalana, da cidades de Cáceres, que filtrou da música gaúcha e mato-grossense um ritmo alucinante e envolvente, fazendo com que as pessoas que o assistem, tornem-se apreciadores desta novidade cultural. Há que destacar, que o migrante, ao vir para Mato Grosso, trouxe consigo sua tradição, e junto, um certo ranço bairrista. Daí a observar-se em cidades do interior diferentes tipos de manifestações folclóricas, das quais, algumas jamais vistas em nosso Estado. Dança do Zinho Preto - A dança do Zinho Preto é digna de registro. É praticada por um grupo de dançarinos no município de Jauru, cidade que fica entre as vertentes dos rios Guaporé e Jauru, no oeste mato-grossense. É uma dança que envolve somente homens, diversas fases são desenvolvidas, sempre ao som de uma sanfona e pandeiro. Os dançarinos vestem-se com roupas em tons berrantes usam penachos na cabeça. Frequentemente pulam garrafas (vazias) dispostas em linha reta, no chão, usando também espadas (de madeiras), simbolizando uma luta. A Dança do Zinho Preto de Jauru tem características indígenas e africanas. Dança do Facão - Uma das manifestações de maior destaque no interior mato-grossense, é a Dança do Facão. É um folfolguedo tipicamente gauchesco, sendo apresentado principalmente nos CTGs - Centro de Tradições Gaúchas, esparramados por todos os rincões do Estado, inclusive na capital, Cuiabá. Esta dança agrada a todos que vêem, pela riqueza do figurino e agilidade dos dançarinos. Dança dos Lenços - A dança originária da cidade pantaneira de Barão de Melgaço, criada por dona Leodina Oliveira da Silva. Segundo a própria Leodina, esta expressão saiu dos passos do Siriri, chamado Barco do Alemão. A dança é uma declaração de amor no sentido mais singelo e sublime. Milonga - Expressão que nasceu na região platina e que virou toada pública no Rio da Prata. Existe a milonga pampeana e a da cidade. A Milonga é poeticamente fruto da preguiça do tempo e das horas de ausência do gaúcho ou base melódica para o Payador (repentista do sul). Em Mato Grosso, a milonga chegou com os migrantes gaúchos, notadamente a partir da década de setenta, assim como outros ritmos. Chote - Dança de origem alemã ou húngara, trazida para Espanha e portugal, mais tarde para a América, a qual fixou-se no sul e nordeste brasileiro. o nome vem do alemão Schottish, parecido com a mazuca e com a polca. E chote no sul é mais conhecido no Rio Grande do Sul, na Província de missiones ( Argentina) e algumas regiões fronteiriças do Uruguai. Tornou-se dança popular, criando característica própria. Veio para o Mato Grosso com os gaúchos e nordestinos, especialmente a partir dos anos setenta. Fandango - Dança espanhola e portuguesa, foi trazida para o Brasil no século passado. O Fandango é um tipo de baile rural em Portugal, acompanhado de sanfona e viola, enquanto que na Espanha, de violão e castanhola. É uma expressão que existe em vários estados brasileiros e Mato Grosso somente recebeu suas influências há poucas décadas. O Fandango é tocado pelos conjuntos musicais em bailes gaúchos. Vanerão - Assim como vanera, vanerinha, segundo o pesquisador Paixão Côrtes, nasceu da habanera e esta por sua vez nasceu em Havana - Cuba. Daí o seu nome habanera que quer dizer de habana. A habanera foi a primeira música genuinamente afro-latino-ameriacana que foi levada para salões europeus do século XVII. Mais tarde, já deformada na sua estrutura primordial devido às modalidades nelas aplicadas pelos músicos europeus, voltou com os imigrantes portugueses e espanhóis, alojando-se em diversas cidades da América Latina. De acordo com nossas pesquisas, a habanera deu origem no maxixe brasileiro, e grande expressão popular argentina, o tango. Quanto ao vanerão, foi mais uma alteração dessa música e se tornou, ao lado do chote, bugio, fandango, etc, uma das danças populares do Rio Grande do Sul. Também foi trazida a Mato Grosso pelos povos do sul. Cateretê - De provável origem africana, disseminada nas regiões sudeste e Estado de Goiás. Dança em fileiras opostas e cantada, cujo nome indica origem tupi, mas que coreograficamente se mostra muito influente pelos processos de dançar catira. O cateretê é cultivado em Mato Grosso na região do Médio Araguaia. Bugio - Dança popular gaúcha. É considerada a mais autêntica de todas as outras. A denominação bugio vem da imitação que os pares fazem durante o desenrolar da dança. O bugio apareceu em Mato Grosso com o movimento migratório gaúcho. Moda de Viola - Canção rural a duas vozes, em terças, com acompanhamento de viola de pinho. Seus temas enfocam sagas de boiadeiros, amores não correspondidos e sempre cantada com vernáculos locais. Em Mato Grosso é facilmente encontrada em toda extensão araguaiana, trazida pelos migrantes de Minas Gerais, São Paulo e Goiás, onde é muito comum. Toada - Qualquer cantiga de melodia simples e monótona, texto curto, sentimental ou brejeiro, estrofe e refrão. Pastorinhas ou Pastoril - Pequena representação dramática, composta de várias cenas (jornadas), durante as quais se sucediam cantos, danças, partes declamadas e louvações e que se realizava diante do presépio, entre o dia de natal e o de Reis, para festejar o nascimento de Jesus. Folguedo comum em Barra do Garças - Vale do Araguaia. Música Nordestina - Denominação dada a toda nebulosa telúrica da cultura musical nordestina. A música nordestina tem vários ritmos, folguedos e cantorias. Em Mato Grosso o chamado forró é mais conhecido devido a ser uma coletânea de danças populares nordestinas, como o baião, xaxado, chote ... A música nordestina influenciou Mato Grosso em toda região do Vale do Araguaia e norte do Estado, principalmente depois da fundação de Brasília. Catira - Considerada a mais contundente expressão rural originada do Lundu, ao lado do Cateretê, Cururu Paulista, Arrasta-Pé, Balanço, Calango Mineiro, Pagode...etc. Com sapateado ou improvisações de versos mostrando uma das facetas de fandango luso-espanhol, a catira marca no seu desenrolar toda uma saga de chamada música caipira e seu canto, em primeira e segunda voz, que hoje é uma das bases vocais da música sertaneja. A catira desenvolveu-se em diversas regiões mato-grossense; Chapada dos Guimarães, Vale do Araguaia, do Rio Garças e do rio Vermelho. FESTAS RELIGIOSASUm dos importantes marcos da nossa cultura que ainda se mantem ilesa de qualquer influência progressista, é a tradição dos costumes e festas religiosas, realizadas por ocasião da comemoração aos santos de devoção popular. É o caso das festas em louvor a São Benedito, a Nossa Senhora do Rosário e ao Divino Espírito Santo. É importante lembrar que a festa de São Benedito ( geralmente realizada na última semana de junho e com encerramento no primeiro domingo de julho), apesar de ter características semelhantes à do Senhor Divino, não tinha a mesma magnitude, uma vez na primeira predominava a participação popular, enquanto na segunda, era a alta sociedade cuiabana que liderava os festejos. Nesta festas, bem como na de Nossa Senhora do Rosário era comum a realização da Dança de Congos. Vale dizer que a semelhança existente entre a a festa do Senhor Divino e a de São Benedito diz respeito a todo um ritual que acontece dias antes, no qual os festeiros percorrem as ruas da cidade levando de casa em casa a bandeira dos santos e recebendo donativos que serão transformados em alimentos para serem servidos no dia da festa propriamente dita. Neste dia, após a missa da madrugada é servido, a toda a população que queira participar, alimento o dia todo, começando pelo chá com bolo e adentrando a noite com danças regionais e pratos típicos da culinária mato-grossense. Aliás, a culinária mato-grossense não é só famosa pelo seu sabor inigualável, quanto pela especificidade dos seus pratos, a exemplo da "maria-izabel", do pacu assado com farofa de couve, da carne sêca com banana verde, a farofa de banana, e tantos outros. É tão forte a magia desta culinária sobre o paladar de seus degustadores que existe até uma lenda referente ao pacu assado. Segundo essa lenda, todo e qualquer forasteiro que aqui chega deve comer a cabeça do pacu e daqui não mais terá vontade de sair. LITERATURAAs primeiras manifestações acerca da região que seria posteriormente Mato Grosso datam ainda do século XVI. Ulrich Schmidl, servindo no exército espanhol, descreveu a sua viagem subindo o Rio Paraguai até perto do Chapadão dos Parecis em sua obra "Derrotero y Viaje a espanã y las Índias", cuja primeira edição escrita em latim, data de 1599. No mesmo século, outros conquistadores a serviço da Espanha, estiveram no solo mato-grossense e descreveram as suas aventuras, mas que foram publicadas somente no século posterior. O Padre Jesuíta Antônio Rodrigues, Dom Hernando de Ribera, Domingos Martinez de Irala, Alvar Nuñes Cabeza de Vaca fizeram interessantes relatos acerca de suas expedições "Paraguay arriba..." No século XVII, praticamente a única obra produzida que menciona esta região, então sob domínio espanhol, foi o “Aneles del Descobrimento, Población y Conquista del Rio de la Plata”, de Ruy Dias de Gusmán, que permaneceu inédita até 1833, apesar de ter sido escrita em 1612. Publicados no século XVIII, temos 4 relações que, em princípio referem-se a Mato Grosso. São elas “Relação e Breve Notícia de um bicho feroz que apareceu à gente que foi para o Mato Grosso” anônimo sem data; “Relação curiosa do sítio de Grão Pará e terras do Mato Grosso...” anônimo sem data; “Relação de chegada que teve a gente de Mato Grosso...”anônimo de 1754; “Relações e notícias da gente que nesta segunda monção chegou ao sítio do Grão Pará e às terras do Mato Grosso...” escrita por Caetano Paes da Silva e publicado em 1754. Ainda no século XVIII tivemos o primeiro cronista do passado de Mato Grosso, José Barbosa de Sá, iniciando o denominado Ciclo dos Cronistas. Esse licenciado escreveu “Relação das povoações de Cuiabá e Mato Grosso de seus princípios até os tempos presentes”, escrito em 1755 mas publicada neste século. Joaquim da Costa Siqueira, ainda no século XVIII escreveu “Crônicas do Cuiabá”, praticamente uma transcrição da obra de Barbosa de Sá e também o seu “Compêndio Histórico Cronológico de Cuiabá”, publicado somente em 1850. Outros cronistas se ativeram a Cuiabá e Mato Grosso ainda no primeiro século da ocupação mato-grossense: João Antônio Cabral com “Memórias Cronológicas da Capitania de Mato Grosso”, José Gonçalves da Fonseca com “Notícias da situação de Mato Grosso e Cuiabá”. Escrito no século XVIII, mas somente posteriormente publicados, são os inúmeros trabalhos acerca de Mato Grosso, relatórios de viagens, demarcações de fronteiras de autorias dos seringueiros Francisco José de Lacerda e Almeida e de Antônio Pires da Silva Pontes. Já no principio do século XIX o oficial de engenheiros Luíz d’Alincourt, entre vários trabalhos nos deixa a “Memória da Viagem do Porto de Santos à cidade de Cuiabá”, e Hércules Florence com “Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas”. Com ambos os trabalhos se inicia em Mato Grosso o denominado Ciclo dos Viajantes. Neste século tivemos ainda Joaquim ferreira Moutinho que escreveu “Noticias sobre a Província de Mato Grosso”; Bartolomeu Bossi, com “Viagem Pintoresco...”; Visconde de Beayrepaire-Rohan com “Anaes de Mato grosso”, publicado na Revista de Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo de 1910; O Dr. João Severiano da Fonseca escreveu “Viagem ao Redor do Brasil”; Karl von den Steinen, cientista alemão que escreveu “O Brasil central” e outros trabalhos etnográficos. Faz ainda parte do Ciclo dos Viajantes, Francis de la Porte Castelnau, que escreveu “Expedição às partes centrais da América do Sul”. No século XIX destacamos também a figura erudita de Augusto Leverger, o Barão de Melgaço, que com 36 títulos escrito sobre Mato Grosso, destacamos “Apontamentos Cronológicos da Capitania de Mato Grosso”, “Vias de Comunicação de Mato Grosso”, e “Breves Memórias relativas à Corografia de Mato Grosso. Ainda nas primeiras décadas desse século tivemos Estevão de Mendonça com sua obra máxima “Datas Mato-grossenses:, dentre outros muitos trabalhos históricos por ele nos deixado, além de obras culturais de inegáveis méritos, com a criação da revista “O Archivo” de 1904 a 1906. Virgílio Corrêa Filho, o maior historiador das coisas do passado mato-grossense, nos legou nada menos que 109 títulos de obras acerca de Mato Grosso, sem contar as de cunho nacional. Sua grande obra é sem dúvida a “História de Mato Grosso”, além de “As raias de Mato Grosso”, Augusto Leverger – o Bretão Cuiabanizado”, “Joaquim Murtinho”, “Pedro Celestino” e outras da mais suma importância para a historiografia mato-grossense. Dom Francisco de Aquino Corrêa, um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de mato Grosso e da Academia Mato-grossense de Letras, foi um dos maiores cultores da língua prática, produzindo sermões, poesias, crônicas e história no mais refinado vernáculo. Entre seus trabalhos destacamos: “A Fronteira de Mato Grosso com Goiás”, “Cartas Pastorais”, “Uma flor do Clero cuiabano”, “Nova et Vetera”, “Florileguim”. Foi D. Aquino Corrêa o autor da letra do Hino de Mato Grosso. Foi ainda membro da Academia Brasileira de Letras. O desembargados José de Mesquita despontou como um dos grandes leitores mato-grossenses. Jurista, historiador, genealogista, cronista e poeta, escreveu: “A Chapada Cuiabana”, “João Poupino Caudas”, “O Traumaturgo de Sertão”, “Gente e Coisa de Antanho”, “Terra do Berço” e “Poema do Guaporé”. O General Cândido Mariano da Silva Rondon, relatou as suas experiências pelos sertões de Mato Grosso, pacificando índios e estendendo linhas telegráficas, em mais de 20 trabalho, todos eles publicados pela Comissão Rondon. Sem dúvida, além do brilhante militar, despertou nas letras mato-grossenses. Rubens de Mendonça, de longe o maior historiador regional mato-grossense dos tempos modernos, poeta sensível e cronista atento do cotidiano cuiabano, herdou a veia literária de seu pai Estevão de Mendonça. Escreveu perto de 50 livros, dentre os quais, as seguintes contribuições para a historiografia, “História de Mato Grosso”, “História do Comércio em Mato Grosso”, “Sátiras na Política de Mato Grosso”, “Nos Bastidores da História de Mato Grosso”, “Ruas de Cuiabá”, na poesia, “Cascalho de ilusão”, “Garimpo do meu Sonho”, “No escafandro da Vida”, "Antologia Bororo” e “Dom Por do Sol”. Foi o Secretário Perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso até seu falecimento em 1983. Luíz Philipe Pereira Leite, historiador emérito com 37 títulos publicados a cerca de nossa historiografia regional, escreveu: “Vila Maria dos meus amores”, “Bispo do Império”, “O médico da Jacobina”, “Os Capitães Generais de Mato Grosso”, “Três Sorocabanos no Arraial”, dentre outros. Presidiu o Instituto Histórico de Mato Grosso por 20 anos profícua gestão. Na historiografia mato-grossense destacaram-se ainda: Antônio Corrêa Costa, Firmo José Rodrigues, João Barbosa de Faria, Antônio Fernandes de Souza, Francisco Alexandre Ferreira Mendes, Lécio Gomes de Souza, Antônio de Arruda, J. Lucídio Nunes Rondon, Lenine Póvoas, Natalino Ferreira Mendes, Adalto de Alencar, Pe. José de Moura e Silva, dentre outros. A Universidade Federal de Mato Grosso, tem contribuído sobre maneira com a produção historiográfica, dando uma ênfase mais acadêmico-cientifíca aos trabalhos. Dignos de notas são as professoras Luiza Volpato, Elizabeth Madureira de Siqueira e Lúcia Helena Gaeta Aleixo, produzindo obras históricas de excelente nível científico. Na poesia ainda de destaca Pedro Trouy, Antônio Tolentino de Almeida, Otávio Cunha, Ulisses Cuiabano, José Raul Vila, Maria de Arruda Müller, Franklin Cassiano Silva, Carlos Vondoni de Barros, João Antônio Neto, Lobivar de Matos, Euricles Mota, Tertuliano Amarília, silva Freire, Ronaldo Castro, representando uma grande quantidade de sensíveis e brilhantes poetas, que em sucessivas gerações, tanto cantaram a terra e a gente mato-grossense. Destacam-se ainda nas letras de forma geral: Gervásio Leite, Corsíndio Monteiro da Silva, Carmindo de Campos, Agrícola Paes de Barros, Carlos Frederico Moura, Domingos Sávio Brandão Lima, Nilo Póvoas, Isaac Póvoas, Renato Baez, dentre outros. Essa plêiade de literatos, de escritores, poetas e historiadores, que longe dos grandes centros culturais, isolados pela distância, com a sua capacidade inata de registro, pela erudição, intelectualidade e sensibilidade poética, conseguiram fazer sobressair seus nomes e marcar indelevelmente a sua passagem pelo mundo cultural deste Estado. Mato Grosso, rico em história, em prosa e em verso, e principalmente, rico em homens eruditos e sensíveis, que contaram essas histórias , elaboraram essas crônicas, produziram poesias. Homens que sonharam Mato Grosso. TEATROO teatro em Mato Grosso, foi o meio de maior influência para a formação da cultura regional. Através de representações teatrais, registrada desde o século XVIII, despertou a sensibilidade de gente mato-grossense pelas coisas eruditas e culturais. A história de nosso Estado abundantemente cita festas, fogos, cavalhadas, músicas, recitais de poesia, e principalmente a representação de peças teatrais. O século XVIII é profuso e abundante nesses acontecimentos festivos. O historiador Carlos Francisco Moura nos diz que mato Grosso foi a Capitânia onde o teatro teve a maior importância social e cultural. Suas pesquisas lavaram-no à conclusão que em várias fontes de história, de 1727 ao fim do século XVIII, são documentadas nada menos que 80 representações teatrais, enquanto que Galante de Souza registra em todas as demais Capitania somadas, no mesmo período, 50 representações. No Mato Grosso do século XVIII, haviam grandes festas em ocasiões especiais, como a chegada de autoridades coloniais, partidas dos mesmos, júbilos de casamento ou nascimento de membros da família real portuguesa, festejos religiosos, regozijo por términos de batalhas, posses de autoridades, etc. E nessas festividades, cuja memória chegou até nós graças ao zelo e à preocupação de registro de poucos cronistas que a isso se dedicaram, havia sempre a representação de comédias e tragédias, a par de óperas, danças, fogos e cavalhadas. Era a ingenuidade das manifestações, da alegria da gente mato-grossense no primeiro século da conquista destes sertões. A história registrou uma representação teatral como parte integrante de uma festa maior em 1763, por ocasião do nascimento do neto de D. José I; outras peças foram levada em outubro de 1772 com a chegada à Cuiabá de Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, e em dezembro desse mesmo ano, com a sua posse como Capitão General em Vila Bela; em 1785 em festejos na localidade de Casalvasco, outras representações foram levadas. Ficaram também registradas na história, as festas em homenagem ao Juíz de Fora de Cuiabá, Diogo de Toledo Lara e Ordonhez, que em poucos dias cerca 17 peças teatrais entre tragédias e comédias. Pelo minuciosos comentários que se fez das festividades e das representações, tornou-se Ordonhez o primeiro crítico teatral que se tem notícias no Brasil. Em 1796, pela chegada de Caetano ***** de Miranda Montenegro, foram representadas 6 peças teatrais. Em várias ocasiões, no século XIX, foram representada interpretações teatrais. Em 1800 com a visita de Caetano ***** de Miranda Montenegro a Cuiabá; em 1807 foram encenadas várias peças em regozijo à visita a Cuiabá do Capitão General João Carlos Augusto d'Oeynhausen e Gravenberg; Pela restauração de Portugal, em 1809 se encenou peças teatrais em Cuiabá; em 1845, nas festas de Pentecostes em Cáceres, o naturalismo Francis de la Porte Castelnau assiste a teatro cacerense. Joaquim Ferreira Moutinho anota que em 1867 "os cuiabanos manifestavam grande gosto pela arte dramática" e dá notícias da montagem de uma companhia teatral mato-grossense pelo governador Dr.Delamare. A seguir, várias instituições teatrais foram formadas em Cuiabá, sendo em 1887 criada a Sociedade Dramática Amor e Arte. A primeira apresentação profissional em Cuiabá deu-se em 27 de Agosto de 1885, com a Companhia Zarzuelas, que veio a Mato Grosso exibir-se no Teatro São João. Em 1893 um tal de Joaquim Bartolino Proença funda uma Escola de Arte Dramática. No século XX as atividades teatrais deveram-se as iniciativas de instituições de ensino, como o Colégio São Gonçalo. O padre José Solari e depois o padre Luís Montuschi, montavam e dirigiam os espetáculos, formados pelos alunos. Por volta de 1925, Zulmira Canavarros e Franklin Cassiano montaram várias peças teatrais em Cuiabá. Na década de quarenta, vários intelectuais e professores, organizaram espetáculos teatrais. Foram eles Alberto Addor, Gervásio Leite, Ana Pinheiro, Leonidas Mendes e outros. Todavia há que se ressaltar que, desde o século XVIII, as peças teatrais montadas e exibidas nos festejos mato-grossenses, não foram aqui escritas, salvo honrosas exceções. A interpretação, a arte cênica sempre foi mato-grossense, todavia, as peças eram importadas em sua maioria. Na década de 70 e 80, grupos teatrais conseguiram realizar mostras e circuitos teatrais, e dessa forma divulgar um teatro genuinamente mato-grossense. Nos anos 90, ocorreram a série Festival Estadual de Teatral, em que diversos grupos teatrais, de todos os rincões do Estado participaram. Com isso, o teatro mato-grossense pode se interiorizar, levando a arte cênica e a cultura a vários municípios do interior do Estado. Hoje uma nova geração desponta. Artistas, cenógrafos, teatrólogos, com técnica e arte, recuperam um espaço de há muito perdido e esquecido. A atuação de grupos teatrais somente vem enriquecer ainda mais não só o teatro, mas a cultura mato-grossense como um todo. É inegável afirmar-se que a vanguarda do teatro em Cuiabá na última década é representada por Amaury Tangará e por Glorinha Albuês, que sem espaço cultural, sem apoio financeiro, sem recursos técnicos maiores, conseguem levar em frente o teatro que um dia foi o mais importante de todas as Capitanias no século XVIII. Um abraço para você!
2 anos atrás
POVOS INDIGENAS
São 206 os povos indígenas no Brasil de hoje. Na maioria sociedades diminutas, remanescentes de populações que já foram consideráveis, destruídas por doenças, escravização, massacres, invasão de seus territórios, deportação, programas de assimilação: mais de dois terços desses grupos não chegam hoje a mil pessoas. No total, são uns 280 mil índios, contando-se apenas os que moram em áreas indígenas. Outros 30 mil são índios desaldeados, que moram na maioria em áreas urbanas. A população indígena concentra-se na Amazônia, onde moram cerca de 60% dos índios brasileiros.
As sociedades indígenas são muito diversas entre si. Vejam-se as línguas, por exemplo. Distinguem-se 163 línguas indígenas diferentes. Se incluirmos os dialetos, esse número sobe para 195. Com exceção de dez línguas isoladas, que não se aparentam com nenhuma outra, essa grande variedade de línguas pode ser agrupada em 14 conjuntos. Quatro grandes grupos lingüísticos espalham-se por territórios amplos, que podem transbordar das fronteiras nacionais: são os grupos Macro-Tupi, Macro-Jê, Aruak e Karib. Os troncos lingüísticos Macro-Tupi e Macro-Jê agrupam mais de 20 línguas cada um.
Dez grupos lingüísticos territorialmente mais compactos e quase todos da periferia da bacia amazônica reúnem um número menor de línguas: são as famílias Arawá, Txapakúra, Pano, Guaykuru, Nambikwára, Mura, Katukina, Yanomami, Tukano e Maku. As línguas isoladas, dez ao todo, são em geral faladas por pequenos grupos. Mas uma delas é falada por um dos maiores grupos indígenas brasileiros, os Tikuna, que reúne 20 mil índios. Muitas línguas se perderam neste século e outras estão a ponto de se perderem. Assim, os Pataxó Hã-hã-hãe, do sul da Bahia, pediram a lingüistas e antropólogos que elaborassem um vocabulário com a última falante de sua língua. É na região Leste e Nordeste do País que mais línguas se perderam, em parte fruto de preconceito e de políticas assimilacionistas. Hoje, pela Constituição brasileira, o ensino em áreas indígenas deve ser bilingüe.
A diversidade das sociedades indígenas - cada uma sendo uma síntese original de sociabilidade e de uso dos recursos naturais - é um patrimônio essencial do Brasil. O que talvez mais chame a atenção seja o contraste entre a simplicidade das tecnologias e a riqueza dos universos culturais. As sociedades indígenas elaboraram cosmologias e sistemas sociais complexos, nos quais o patrimônio imaterial parece ter um privilégio sobre o patrimônio material. Enquanto a propriedade privada da terra, por exemplo, é inexistente, direitos sobre bens imateriais, tais como nomes próprios, cantos, ornamentos rituais, são objeto de detalhada regulamentação. A arte indígena, por sua vez, parece preferir suportes perecíveis: em muitas dessas sociedades, o corpo humano, a palha e as plumas são objeto de um trabalho artístico intenso - pintura corporal, cestaria, arte plumária - sobre objetos essencialmente efêmeros.
As sociedades indígenas são diminutas, como vimos, e dão uma impressão errônea de isolamento. Na realidade, elas têm crescentemente se revelado ligadas a uma extensa rede de trocas - de mercadorias, de esposas, de cantos e rituais - e abertas ao exterior. Exemplos importantes são as sociedades do Alto Xingu e as do Alto Rio Negro. No Alto Xingu, vários grupos indígenas falando línguas de troncos ou famílias diferentes compartilham um universo cultural e estabeleceram um sistema de trocas baseado numa especialização de certa forma fictícia. Ao invés da especialização (em cerâmica, adornos etc.) ser a causa das trocas, as trocas é que derivam na sociabilidade que produz a especialização. No Alto Rio Negro, em um processo análogo, grupos de línguas diferentes devem casar entre si, e maridos e mulheres não falam a mesma língua. Já se interpretaram os pequenos efetivos demográficos das sociedades indígenas das terras baixas da América do Sul como uma adaptação a ecossistemas com escassos recursos, mas hoje esse determinismo ecológico está caindo em desuso. Está se percebendo, ao contrário, que, em certas áreas pelo menos, o fracionamento das sociedades indígenas seria um produto da história mais do que do meio ambiente, e que muitos dos grupos que hoje são caçadores-coletores teriam sido agricultores em outras épocas. Outros antropólogos ligaram o tamanho das sociedades indígenas das terras baixas a um deliberado projeto igualitário, que evitaria a emergência de um Estado ou de uma estratificação social, o que está sendo hoje posto em dúvida por arqueólogos da Amazônia que sustentam a existência de cacicados altamente hierarquizados até à época da Conquista.
A situação territorial dos povos indígenas é muito variada. Depende em larga medida do tipo de interesse econômico que apresenta ou apresentou seu território. Mas depende também do sucesso político das estratégias de defesa indígenas, área em que os Kayapó do sul do Pará têm demonstrado sua excelência. De forma geral, nas zonas de ocupação antiga e permanente, como no Nordeste, Leste, algumas regiões do Centro-oeste e Sul do País, os grupos indígenas que sobreviveram estão em geral ilhados em pequeníssimos territórios. O menor deve ser o dos Guarani Mbya, no Território Indígena Jaraguá, no município de São Paulo, com apenas 2 hectares, seguido pelo Território Indígena Aldeinha, dos índios Terena, no município de Anastácio, no Mato Grosso do Sul, com 4 hectares.
Em áreas de ocupação brutal mas efêmera, como nas áreas de produção de borracha, na Amazônia, exploradas durante meio século a partir de 1870, muitos grupos indígenas conseguiram sobreviver, embora com áreas territoriais muito diminuídas. Existem até hoje provavelmente 50 grupos de índios arredios na Amazônia, que procuram manter seu isolamento. Alguns, mas não todos, são descendentes de grupos que já tiveram duras experiências com os outros brasileiros e internaram-se de novo na mata. A cada dia, esse isolamento é mais precário: em 1995, apareceram índios no estado de Rondônia: encurralados por desmatamentos e investidas em suas terras, preferiram aceitar o contato.
Todas as Constituições brasileiras, desde a de 1934, garantem aos índios as terras que eles ocupam. Esta ocupação ficou definida na Constituição de 1988, no artigo 231, parágrafo 1, segundo o qual são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
As terras indígenas ainda não estão completamente regularizadas, apesar do preceito constitucional que estipulava que o fossem até 1993. Em junho de 1996, das 554 áreas, 148 encontravam-se demarcadas e registradas. Correspondem a um total de cerca de 45 milhões de hectares, ou seja, pouco menos da metade da área total das terras indígenas. Outras áreas encontram-se em fases diferentes de regularização: há desde áreas a identificar, geralmente associadas a grupos isolados, áreas delimitadas e áreas demarcadas fisicamente mas sem homologação e registro. As demarcações são necessárias mas não suficientes para a proteção das terras indígenas, que sofrem invasões de várias naturezas. Mineradoras, madeireiras, garimpeiros, fazendeiros, são fontes de inúmeros conflitos. No estado do Ceará, companhias de beneficiamento de coco invadem as terras dos índios Tremembé, e índios Tapeba vivem confinados em um mangue nos arredores de Fortaleza, em uma parcela de sua área. Em várias regiões, as grandes fazendas expulsam posseiros para dentro de terras indígenas, criando violência entre despossuídos. Obras de infra-estrutura, como estradas e hidroelétricas, também têm incidido em áreas indígenas, criando situações de grandes conflitos.
É portanto fundamental uma ação firme e vontade política do governo na proteção dos direitos indígenas. O Brasil tem uma tradição de legislação justa e generosa em relação aos índios, mas uma tradição também de desrespeito na prática a esse conjunto de leis. Os índios são, desde o Código Civil de 1916, tutelados pelo Estado brasileiro, equiparados a menores entre 16 e 21 anos. Isto significa um apoio do Estado para impedir que sejam lesados, mas freqüentemente este apoio tem se traduzido em abuso de poder. O órgão que, de 1910 a 1967 exerceu essa tutela foi o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que foi dissolvido em meio a denúncias de corrupção. Foi substituído pela Fundação Nacional do Índio (Funai), que também tem sido alvo de críticas, tendo sido em algumas gestões acusada de conluio, por exemplo, com madeireiras. Desde a Constituição de 1988, os índios têm reconhecida sua iniciativa judicial e contam com a proteção adicional do Ministério Público. Essa nova situação tem produzido frutos importantes.


As organizações indígenas têm crescido em importância e representatividade, apoiadas em uma rede de ONGs, de antropólogos e da Igreja Católica. É notável a presença, entre os líderes, de índios que tiveram seus primeiros contatos com outros brasileiros durante a adolescência, mas que conseguem entender seus mecanismos políticos.
Enquanto nos anos 50 e 60 previa-se o desaparecimentos dos índios, hoje se constata uma recuperação demográfica e um ressurgimento de etnias que se ocultavam diante do preconceito. Assim mesmo, ainda são - lamentam os que os consideram como empecilhos ao desenvolvimento - poucos índios para muita terra. O juízo de valores pode ser invertido, desde que se saibam avaliar os benefícios possíveis: os índios têm preservado, nas grandes áreas da Amazônia que ocupam, uma espantosa riqueza em biodiversidade e um saber acumulado cujo valor de mercado ainda não é reconhecido. A valorização adequada desses recursos - diversidade genética e conhecimentos - e uma política que permita a continuação de um modo de exploração não destruidor da natureza, podem garantir aos índios um futuro no Brasil e ao Brasil a preservação de sua diversidade cultural e natural.
Observação: os dados numéricos sobre população e terras foram agregados por Fany Ricardo, do Instituto Sócio-Ambiental, a quem agradeço aqui.
Manuela Carneiro da Cunha

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Índio – uma identidade

Após algumas discussões, pesquisas e análises, percebemos que a abordagem do tema – o índio integrado – estava sendo feita de forma superficial, com uma visão romântica, ingênua e simplista.
Na verdade, não existe o índio. O índio faz parte do imaginário de nossa sociedade. O que existem são os bororo, os guarani, os terena e etc.
Essa identidade forjada – o índio – é acessada sempre que esses povos querem reivindicar os seus direitos na “terra homem branco”. Essa atitude é típica dos grupos minoritários, quando querem conquistar mais espaço na sociedade (nós índios, nós mulheres, nós negros...).
O artesanato indígena comercial ajuda a reforçar essa identidade forjada, principalmente os objetos tipicamente ritualísticos ou clichês, pois eles mantêm aqueles velhos estereótipos do índio: o do cacique com o seu cocar e trajes típicos, com sua maraca e seus enfeites; ou o do índio guerreiro, com suas pinturas e seu arco e flecha.
Essa fantasia nos atrai, pois ela difere de nossa cultura, ainda mais na pós-modernidade, onde o diferente é exaltado e valorizado.Quando vemos um índio vestido com as roupas do “civilizado”, totalmente descaracterizado, o encanto do cacique e do índio guerreiro se acaba e tendemos a ver de forma negativa a integração do índio em nossa sociedade.

Friday, September 15, 2006

Sincretismo

Comentário:

Essas imagens mostram claramente o sincretismo religioso dentro da comunidade indígena. Aqui, simbolos cristãos e pagãos coexistem na crença do índio guarani. Muitas vezes, Jesus ocupa o lugar de Tupã nos rituais e orações, provavelmente devido às semelhanças existentes entre Cristo e essa divindade pagã.

Pode-se concluir, portanto, que por trás da máscara cristã, os índios ainda mantêm muitas crenças de seus ancestrais.

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O chocalho geralmente é utilizado para cura e purificação. Hoje em dia, artefatos ritualísticos também são vendidos como artesanato.

Fontes:

- Schaden, Egon. Aspectos fundamentais da cultura Guarani. - ( fotos e informações)

- Os Guarani: índios do Sul – religião, resistência e adaptação:

Wednesday, September 13, 2006

Aculturação indígena

Comentário:
O contato com os jesuítas possibilitou a catequização dos índios? Para responder essa pergunta devemos primeiramente pensar que a partir do contato com o novo, ou reafirmamos a nossa crença ou nos abrimos para a possibilidade de uma nova resposta.
Se ocorre a segunda opção, pode acontecer o sincretismo, ou seja, a junção de duas ou mais religiões.
Nos textos abaixo, podemos dizer que os índios possivelmente fizeram um sincretismo, pois a religião deles tem vestigios do cristianismo, pois eles fazem várias referencias que podem ser consideradas à Jesus Cristo.
Sendo assim não podemos falar que a religião ou a cultura indígena está sendo perdida, pois na verdade ela está se transformando, pois a "evolução" das culturas depende do contato entre elas. Os índios não possuem a obrigação de seguirem a cultura ou religião dos ancestrais apenas pelo fato deles terem nascidos índios, eles tem o direito de conhecerem e até mudarem de opinião.
Talvez um dos maiores equívocos cometidos seria o fato de acharmos que eles devem resgatar a sua cultura ou religião, mas será que eles querem este resgate? Será que eles querem continuar “sendo índios”? Não podemos esquecer que estamos falando dos índios integrados, ou seja, os índios que estão mais em contato com a nossa sociedade.

Textos:
(Textos extraídos do livro Aculturação indígena)

“Uma história mítica ouvida por Baldus entre os Mbüá de Guarita: Jesus Cristo, desafiado pela onça, “para ver quem podia assustar o outro”, acaba vencendo por meio de seu relâmpagos e trovões. Baldus cita a versão de Müler, em que o lugar de Jesus Cristo é ocupado por Tupã, o Ser Supremo na religião dos Mbüá paraguaios estudados por este autor”.

“O Pe. Muller ouviu entre os Mbüá do Paraguai em canto de dança profano – em sua opinião, possível fragmento de um auto dos índios da reduções, com o seguinte teor: “Kétsu Kirito, Kétsu Kirito eipea ne okenda t’ahecha Tupãtsy”, isto é, Jesus Cristo, Jesus Cristo, abre a tua porta, desejo ver a mãe de Tupã”. Informa esse missionário que os índios, interrogados sobre quem seja Jesus Cristo, nada sabem dizer”.

Frase:
“Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”
(Lavoisier)

Tuesday, September 12, 2006

Religião Guarani – Uma introdução

Resumo

Não existem registros escritos dos mitos e lendas antigos associados com o povo Guarani. A língua Guarani não era escrita até tempos modernos, e, como tal, suas crenças religiosas são transmitidas apenas oralmente. Assim, o relato dos vários deuses e lendas e mitos relacionados podem variar de um local para outro, e as diferenças regionais podem ser extremas ao ponto de redefinir completamente o papel que uma deidade tem na religião Guarani.

Apesar de um grande número de povos Guaranis terem sido assimilados à sociedade moderna e suas crenças alteradas ou substituídas pelo cristianismo (devido, na maior parte, ao trabalho dos missionários Jesuitas no século 16), muitas das crenças centrais ainda estão ativas em áreas rurais da região Guarani. Como resultado, os mitos e lendas continuam evoluindo até hoje.

Mito Guarani da Criação

A figura primária na maioria das lendas Guaranis da criação é Tupã, o deus supremo de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua Arasy, Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Aregúa, Paraguai, e deste local criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento.

Tupã então criou a humanidade (de acordo com a maioria dos mitos Guaranis, eles foram, naturalmente, a primeira raça criada, com todas as outras civilizações nascidas deles) em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e partiu.

Primeiros Humanos

Os humanos originais criados por Tupã eram Rupave e Sypave, nomes que significam "Pai dos povos" e "Mãe dos povos", respectivamente. O par teve três filhos e um grande número de filhas. O primeiro dos filhos foi Tumé Arandú, considerado o mais sábio dos homens e o grande profeta do povo Guarani. O segundo filho foi Marangatú, um líder generoso e benevolente do seu povo, e pai de Kerana, a mãe dos sete montros legendários do mito Guarani (veja abaixo). Seu terceiro filho foi Japeusá, que foi, desde o nascimento, considerado um mentiroso, ladrão e trapaceiro, sempre fazendo tudo ao contrário para confundir as pessoas e tirar vantagem delas. Ele eventualmente cometeu suicídio, afogando-se, mas foi ressucitado como um caranguejo, e desde então todos os caranguejos foram amaldiçoados para andar para trás como Japeusá.

Entre as filhas de Rupave e Sypave estava Porâsý, notável por sacrificar sua própria vida para livrar o mundo de um dos sete monstros legendários, diminuindo seu poder (e portanto o poder do mal como um todo).

Crê-se que vários dos primeiros humanos ascenderam em suas mortes e se tornaram deidades menores.

Os Sete Monstros Legendários

Kerana, a bela filha de Marangatú, foi capturada pela personificação ou espírito mau chamado Tau. Juntos eles tiveram sete filhos, que foram amaldiçoados pela grande deusa Arasy, e todos exceto um nasceram como monstros horríveis. Os sete são considerados figuras primárias na mitologia Guarani, e enquanto vários dos deuses menores ou até os humanos originais são esquecidos na tradição verbal de algumas áreas, estes sete são geralmente mantidos nas lendas. Alguns são acreditados até tempos modernos em áreas rurais. Os sete filhos de Tau e Kerana são, em ordem de nascimento:

* Teju Jagua, deus ou espírito das cavernas e frutas

* Mboi Tu'i, deus dos cursos de água e criaturas aquáticas

* Moñai, deus dos campos abertos. Ele foi derrotado pelo sacrifício de Porâsý

* Jasy Jaterei, deus da sesta, único dos sete a não aparecer como monstro

* Kurupi, deus da sexualidade e fertilidade

* Ao Ao, deus dos montes e montanhas

* Luison, deus da morte e tudo relacionado a ela

Outros Deuses ou Figuras Importantes

* Angatupry, espírito ou personificação do bem, oposto a Tau

* Pytajovái, deus da guerra

* Pombero, um espírito popular de travessura

* Abaangui, um deus creditado com a criação da lua; pode figurar somente como uma adptação de tribos Guaranis remotas

* Jurupari, um deus de adoração limitada aos homens, em geral apenas para tribos isoladas no Brasil.

Comentários

As tribos Guaranis estão na lista de tribos integradas, quase que totalmente descaracterizadas pela influência da cultura dominante. É importante conhecer sua cultura para saber o que restou dela nas tribos mais próximas aos grandes centros urbanos.

Os guaranis eram politeístas, mas havia um deus central, no caso Tupã. O sistema, portanto, era patriarcal. Assim como em outros povos pagãos, seus deuses eram personificações da natureza.

Será que restam resquícios dessas divindades e crenças na atualidade, em especial no artesanato indígena?

Sunday, September 10, 2006

Alguns trechos do texto Populações Indígenas

Pode-se dizer que a história das políticas e da legislação indigenista é expressão do entendimento progressivo que o branco, com sua cultura de origem européia, foi adquirindo sobre o índio nas experiências de confronto, escravização e convivência pacífica, estabelecidas a partir da conquista...

...A implantação da língua portuguesa e dos hábitos e tradições da cultura européia são parágrafos que integram o Diretório como diretrizes de um projeto colonial que pretendia consolidar avanços territoriais através do povoamento com índios e da imposição da cultura do conquistador...

...O argumento desta proibição repousou no sentido infamante dado à época ao nome associado à instituição da escravidão. Este fato vem demonstrar que o preconceito e as discriminações diversas existentes nas relações étnicas e raciais ainda hoje no Brasil foram historicamente engendradas nas relações de poder e trabalho...

...Um dos motivos que levaram ao fracasso esta política de tratamento do índio foi pretender mudar valores e hábitos de uma sociedade de modo súbito, mediante a decretação de uma série de resoluções tomadas à distancia de um todo um oceano e, evidentemente, sem atenção à mentalidade reinante na colônia de que o trabalho braçal tinha sentido pejorativo associado à escravidão...

...Segundo Manuela Carneiro da Cunha “a tutela surgiu como uma solução para se garantir a mão-de-obra indígena em um momento de transição entre a escravidão e o trabalho assalariado”(1987:110)...

...Estas duas concepções de tutela - uma individual aplicada às relações contratuais e outra coletiva voltada às terras – chega ao início do século XX influindo na discussão do Código Civil, quando é instituída a incapacidade relativa dos índios para certos atos, ficando estabelecida sua sujeição ao regime tutelar condicionado a uma adaptação futura à civilização do país...

...Como o próprio nome da instituição indica, este serviço tinha como objetivo central atender ao índio em regime tutelar, preparando-o para uma integração à comunidade nacional. Em sintonia com essa perspectiva de assimilação, o serviço foi estruturado espacialmente em núcleos de atração, povoações indígenas e centros agrícolas, conforme a graduação das situações por que passam os índios desde o estabelecimento dos primeiros contatos até o ponto em que convivem intermitentemente e depois de forma permanente com a nossa sociedade.

Embora o propósito fosse, como nas legislações anteriores, a transformação do índio em um “não índio”, será a primeira vez em que as organizações indígenas começam a ser respeitadas, assim como as suas terras e o direito de cultuarem valores, tradições e hábitos próprios...

...Está-se processando uma autocrítica às experiências do gênero realizadas no passado por

missionários e pelo estado e, ao mesmo tempo, estarão sendo projetados e implantados os novos procedimentos que se constituirão nas bases para uma integração que se deseja sem traumas culturais, de que são exemplos as primeiras demarcações de terras de índios neste século XX, a introdução do ensino bilingüe nas aldeias e o atendimento médico-sanitário volante.

Segundo o antropólogo Darcy Ribeiro (1977), a situação terminal em que se encontravam vários grupos indígenas, os surtos epidêmicos que dizimavam grupos inteiros e as violências contra eles praticadas para a tomada de seus territórios foram determinantes na configuração da idéia de proteção que orientou as ações do SPI nos primeiros anos deste século XX.

Para o antropólogo, a sobrevivência dos índios naquela circunstância e a formulação de leis

cada vez mais protecionistas, ainda que de cunho assimilacionista, foram frutos de esforços

realizados pelas primeiras equipes formadas no SPI sob a direção positivista do Marechal Cândido Mariano Rondon.

A Fundação Nacional do Índio(Funai) é criada em 1967 (Lei n.º 5.371, de 5 de dezembro de 1967) em substituição ao SPI.

O novo órgão herda a tradição de procedimentos do SPI no tocante ao tratamento da questão indígena, centrada na perspectiva de integração gradual e a longo prazo dos índios, apresentando-se como uma continuidade sem inovação. Na verdade o projeto político de integração dos índios aprimora-se. A lei n.º6.001, de 19 de dezembro de 1973, que dispõe sobre o Estatuto do Índio, estabelece que o trabalho a ser exercido pelo novo órgão será destinado apenas aos índios que ainda não estivessem integrados à comunhão nacional. Desse modo, os benefícios da assistência em saúde, educação, garantia das terras estariam condicionados ao fato de os mesmos não terem concluído o processo de integração.

É nesse horizonte de uma transformação em andamento que será estabelecida uma postura de respeito à diversidade étnica e cultural dos índios norteada pela expectativa de uma assimilação ao final do processo. Assim, na mesma lei que estabelece esses princípios e diretrizes, o índio é definido, classificado e será administrativamente tratado em referência ao tempo de contato com a sociedade nacional...

... Em 1968, quando escrevia “Os índios e a civilização”, Darcy Ribeiro pronunciou-se a respeito da integração, deixando-nos uma avaliação paradigmática sobre o destino das populações indígenas no Brasil contemporâneo. Ele nos fala a partir de uma experiência de 10 anos como etnólogo do SPI, quando assistiu e viu naufragar o sonho positivista da integração plena e harmoniosa dos índios, em cada circunstância local ou regional em que ocorria disputa de terras. Enquanto nas cidades formava-se uma visão romanceada do índio, posicionando-se favoravelmente à sua preservação, no campo, onde precisamente havia interação de índios com segmentos de nossa sociedade, acirravam-se os antagonismos, o preconceito e as manifestações discriminatórias de tratamento a eles nas relações de trabalho e no comércio. Ele diria que o processo de integração, se ocorre, depende de uma mudança nas condições sociais e econômicas da população brasileira e, principalmente daquela que vive próxima ao índio, onde seria preciso uma democratização do acesso à terra e à cidadania para que enfim o índio quisesse ou pudesse optar por ser um “não índio” entre os demais brasileiros. Ele profetiza e deixa expressa essa perspectiva de sobrevivência dos índios, condicionada a uma mudança no âmbito da sociedade brasileira, porque constatava que a assimilação não acontecia: os índios permanecem índios, seja pelo poder isolador do preconceito por parte daqueles com quem interagem em conflitos de ordem fundiária, seja pela força com que convicções étnicas e culturais são preservadas, a despeito da adversidade do ambiente social ou mesmo de uma assistência de cunho integracionista( Ribeiro, 1987)...

...Somando-se a essa população indígena total, levantamentos de funcionários da Funai indicam a probabilidade de que existam aproximadamente 46 grupos indígenas que ainda não estabeleceram relações regulares de contato com a nossa civilização, dos quais 16 já foram confirmados vivendo ocultos em regiões inexploradas e de difícil acesso.

Há também os grupos que já não dispõem desses referenciais étnicos primordiais e se esforçam em resgatá-los para fundamentar a reivindicação de direitos perdidos ao longo de uma trajetória em que sofreram esbulhos de terras, discriminações e mesmo violência física exatamente por serem ainda identificados regionalmente como índios genéricos, mestiços ou descendentes indígenas...

...Vivem em condições de mendicância e praticamente despercebidos em meio às populações pobres e miseráveis das regiões mais antigas da colonização, onde os processos sociais e as políticas de aculturação aparentemente os haviam dado por extintos...

...São definidas as competências do poder legislativo para controlar e autorizar o acesso aos recursos naturais em terras indígenas, assim como do poder judiciário para processar e julgar atos que afetem os interesses e direitos dos índios...

... O órgão federal de proteção será responsável pela gestão do patrimônio indígena. Suas atribuições serão redefinidas levando-se em consideração a participação crescente dos índios na administração do patrimônio e na defesa de seus direitos e interesses. A regulamentação do poder de polícia a ser exercido pelo órgão indigenista federal deverá viabilizar a proteção e a fiscalização dos direitos individuais e coletivos. Será considerada infração administrativa, passível de punição, toda ação que implique dano a pessoas, às comunidades, ao patrimônio cultural, aos bens representados em terras e recursos naturais, havendo recomendações específicas contra atos que configurem preconceito e discriminação.

Por fim para assinalar o propósito realmente inovador desta legislação em processo de aprovação, constam entre os crimes cometidos contra índios: o extermínio total ou parcial, a ofensa à integridade corporal ou à saúde, a remoção forçada de suas terras, a assimilação forçada de usos, costumes e tradições de outra sociedade distinta, a utilização de sua imagem para fins promocionais ou lucrativos, o uso indevido de seus recursos genéticos ou biológicos, o uso igualmente indevido dos seus conhecimentos tradicionais, a disseminação de bebidas alcoólicas, o desrespeito cultural e o ingresso não autorizado em terras indígenas. Ou seja, quando esta legislação estiver em vigor, reconsideraremos nossa dívida histórica para com os índios.

Comentário:

A Funai, descendente direta da SPI, surgiu como alternativa para a não extinção dos índios, oferecendo-lhes proteção e condições de subsistência. Ao mesmo tempo, ela objetiva integrar as populações indígenas à cultura nacional, substituindo “aos poucos” a sua cultura pela cultura do branco, o que marca definitivamente a extinção da cultura indígena, já que pretendem transformar o índio em um não-índio, para que ele possa servir a sociedade do branco e se tornar útil à nação.

A funai é o símbolo do falso respeito à diversidade, já que se prevê a homogeneização no caldeirão da cultura dominadora. A transformação do índio em um não-índio não basta para que ele se integre à dita civilização. O preconceito e a intolerância usam a máscara da preservação, já que é inadmissível a existência de sociedades e culturas paralelas em “nosso” território. Os índios não têm o direito de serem o que são, de manterem suas crenças, seus costumes, seu estilo de vida, enfim, sua própria cultura, independente do homem branco. Devem ser integrados “para o bem deles”.

Uma demonstração clara da intolerância e da “domesticação” do índio a favor do branco são as missões, que visam converter o máximo de índios ao cristianismo, com a desculpa da salvação de suas almas, resultando no esquecimento da rica raiz pagã de suas crenças.

Isso é conservação e respeito à diversidade?

Impor nossa legislação, nossa política, nossa organização, nosso modo de vida é respeitar a cultura do índio?

O homem civilizado tem o costume de achar que seu estilo de vida é melhor do que o de outras sociedades, tachando-as de inferiores, pouco desenvolvidas, quando estas são simplesmente diferentes.

O texto entra em contradições, cita que o objetivo é preservar a cultura do índio e integrá-lo à sociedade nacional, mas é impossível manter culturas “intactas” após um contato entre elas. O objetivo é a substituição da figura do índio - ser inferior e pouco desenvolvido - pela figura do cidadão - integrado, superior, civilizado.

Bem-vindo ao blog Artesanato Indígena! Aqui discutiremos sobre a cultura do índio, em especial das tribos Guarani, e a influência que a cultura do branco exerce sobre elas.

Como tudo começou?

Para a realização do trabalho da TGI, havíamos pensado em fazer algo relacionado a eventos, mas depois de realizar uma breve pesquisa, perdemos o interesse pelo assunto.

Então mudamos para ecoturismo. Após uma conversa com o Fabrizio, percebemos que o tema ainda estava muito vago e abrangente, que deveríamos especificar mais. Foi aí que surgiram os índios... E como gostamos da cultura indígena, decidimos saber mais sobre esse tema.

Ao pesquisarmos mais, descobrimos sobre os índios integrados. Então surgiu a dúvida (que virou recorte): Como o índio integrado consegue manter a sua cultura através do artesanato comercial?

Qual a relevância desse tema?

É o estudo da diversidade cultural no pós-modernismo, que possibilita aos grupos minoritários a reivindicação do seu espaço na sociedade.